domingo, 10 de setembro de 2017

Fofocas dominam as tardes da TV brasileira

Por Altamiro Borges

Com raríssimas exceções, a tevê brasileira está cada dia pior. Programas policialescos que estimulam o ódio e a violência, novelas que nutrem os piores instintos, arrendamento ilegal para seitas religiosas, jornalismo da pior qualidade – se é que dá para chamar de jornalismo os noticiários partidarizados e distorcidos. Nesta sexta-feira (8), mais um levantamento confirmou a deterioração da programação das emissoras. Segundo o site UOL, os programas de fofocas já dominam as tardes da televisão, contribuindo para idiotizar uma parcela da sociedade. Vale conferir a reportagem bajulatória:

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A programação das tardes na televisão aberta tem um tema recorrente: a vida das celebridades. A maratona começa ao meio-dia no "Balanço Geral", que exibe em São Paulo e no Rio um quadro dedicado à fofoca. Em seguida, às 14h, o "Vídeo Show" entra no ar com os bastidores da Globo e apostando no que interessa (e muito) ao público: o elenco da casa: Como vivem? Do que se alimentam?

No ar há exato um ano, o "Fofocalizando" começa por volta das 15h e tem o cuidado de segurar as suas melhores histórias para depois que o concorrente já terminou. Já "A Tarde É Sua", comandado por Sônia Abrão na RedeTV!, começa no mesmo horário que o "Fofocalizando" e fica no ar até as 17h.

Na Record, o "Balanço Geral" tem duas versões do mesmo quadro "A Hora da Venenosa", em SP, e "A Hora do Venenoso", no Rio. Ambos têm conquistado bons índices de audiência com Fabíola Reipert e Amin Khader (respectivamente) contando os bafos de celebridades de A a Z. O programa alcançou uma média de 9 pontos, em São Paulo, e 10, no Rio, em agosto. A média do mesmo período do “Vídeo Show” foi de 12 pontos.

No ar há 34 anos, o "Vídeo Show", cujo assunto principal sempre foi a própria emissora, investe agora em explorar a vida pessoal dos famosos – a Globo afirma categoricamente que o programa não faz fofoca. Desde maio, o quadro "Selfie da Verdade", comandado por Mônica Salgado, traz "revelações" de artistas da casa.

Por lá já passaram Grazi Massafera, Cauã Reymond, Leticia Spiller, Bruna Linzmeyer, Juliana Paiva e entre outros.

"A ideia do meu quadro é trazer um pouco de realidade para figura das celebridades, que são muito idealizadas", afirma Mônica.

Juliana Paes, por exemplo, contou que é exigente com as pessoas que trabalham em sua casa: "Tenho TOC de arrumação, eu infernizo um pouco a vida de quem trabalha comigo. Preciso que as coisas estejam arrumadas para os meus pensamentos ficarem também. Para quem não entende, irrita muito".

Já Bruna Marquezine contou que o ex-namorado Neymar não assistia suas cenas de sexo na TV e explicou como gostava de dormir. "Durmo bem larguinha, blusa do namorado serve para isso", confidenciou.

O mais recente entre os vespertinos que se dedicam à vida alheia, o "Fofocalizando" se firmou na programação do SBT e agrada sobretudo ao patrão, Silvio Santos. Foi a única produção da emissora que não sofreu nenhuma baixa em um recente corte de funcionários.

A contratação do jornalista Leo Dias garantiu furos como o término de Bruna Marquezine e Neymar, o fim do casamento de Juju Salimeni e Felipe Franco e o novo affair de Anitta.

O sofá do mexerico tem ainda Mara Maravilha, Mamma Bruschetta, Leão Lobo e Décio Piccinini, que tecem comentários sobre tudo e todos, já que o programa faz ainda um apanhado de outros assuntos quentes do dia, em geral, casos de violência.

Embora esteja atrás da Globo e Record, a atração segurou média de 5,4 pontos no mês passado, com pico de 8.

O recorde do mês foi uma entrevista com Kelly Key falando sobre o ex Latino.

As notícias quase sempre se repetem. No dia 15 de agosto, por exemplo, o "Fofocalizando", "A Hora da Venenosa" e "A Casa É Sua" mostraram que o cantor Victor estava solteiro e repercutiram uma entrevista em que Cleo Pires disse que passaria a usar publicamente apenas seu prenome. Já o programa da RedeTV! teve uma média de 2 pontos no mesmo período, com picos de 4 pontos.


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Esta programação de baixa qualidade, que não acrescenta nada à vida das pessoas e nem cumpre os preceitos constitucionais – que fixam que as concessões públicas de televisão devem ter conteúdo educativo –, infelizmente ainda seduz muita gente. Pesquisa do Instituto GjK, publicada em maio passado, mostrou que o público feminino passa em média 8 horas e 20 minutos ao dia diante das telinhas. Segundo o levantamento, os gêneros de maior alcance entre as mulheres maiores de 18 anos no primeiro trimestre de 2017 foram: jornalismo (28,9 milhões), novela (28,6 milhões) e filme (28,5 milhões). Quanto ao índice de fidelidade, que aponta a média de permanência do telespectador em um programa, o gênero novela se destaca, com 69%. Que tristeza!

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