terça-feira, 23 de maio de 2017

Temer e as perspectivas do golpe

Por Jeferson Miola

O único poder que Michel Temer ainda possui é o poder de não renunciar. Ele não consegue quórum nem em jantares no Palácio; está esvaziado e acuado, sem credibilidade e legitimidade. Temer, enfim, desmanchou; foi engolido pelas acusações graves e indesmentíveis de crimes.

Ele só não renuncia porque é mantido pelo PSDB. Quando os tucanos debandarem – e esta é uma hipótese que poderá se materializar em breve – Temer chega ao fim.

Com a não-renúncia, Temer no máximo consegue adiar a solução final, porém fica isolado, sem poder de mando administrativo e capacidade política.

Enquanto isso, com a irresponsável teimosia dele e dos seus generais Padilha e Moreira Franco, que desesperadamente se agarram ao foro privilegiado, o Brasil toma o rumo da depressão.

Temer só não recebeu o veredicto final porque as frações do bloco golpista ainda não conseguiram consenso sobre o caminho a seguir para a continuidade do golpe.

Para eles, Temer é descartável. Não é o governo Temer que está em jogo, mas sim o futuro do golpe e a continuidade da agenda antipopular e antinacional que propicia a recomposição da taxas de rentabilidade do capital em padrões predadores.

Uma vez superado o desalinhamento tático e momentâneo entre a Globo e a fração paulista – PSDB, Fiesp, Estadão e FSP –, o destino do Temer estará selado.

São três as alternativas para afastá-lo, caso teime em não renunciar: [1] o julgamento por crimes comuns no STF, que deve ser autorizado por 2/3 dos deputados e cujo prazo para julgamento poderá ser superior a seis meses; [2] o processo de impeachment no Congresso, que poderá terminar em 2018; e [3] a cassação no TSE, que pode ser mais rápida que as duas opções anteriores.

O que unifica o bloco golpista para suceder Temer não é uma saída democrática, mas a escolha indireta do sucessor pelo Congresso ilegítimo, corrupto e comprado pela JBS, Odebrecht, bancos, empreiteiras e grande capital.

O golpe não foi perpetrado para devolver o governo ao campo progressista na primeira eleição que ocorrer; foi concebido para durar pelo menos pelos próximos 10/20 anos.

A revelação dos escândalos não estava no cronograma; foi um acidente de percurso que precipitou a crise de legitimidade do regime.

O fim do governo Temer, do ponto de vista dos trabalhadores, pode significar a abreviatura do golpe com a interrupção da agenda antipopular e antinacional das reformas que tramitam no Congresso.

A convocação de eleições gerais antecipadas para o Congresso e para a Presidência é a única saída democrática capaz de estabilizar o país. Somente com o voto popular o próximo presidente terá a legitimidade necessária para iniciar a agenda de reconstrução econômica e social do país e de restauração democrática.

A classe dominante diverge pontualmente sobre o que fazer com Temer, mas tem unidade estratégica inabalável em torno da continuidade do golpe, e por isso combate a tese das eleições diretas.

A democracia não faz parte do vocabulário da oligarquia. É essencial ampliar, por disso, a unidade entre os setores democráticos da sociedade brasileira e intensificar, aprofundar e radicalizar, nas ruas, a luta democrática e popular por diretas já e pelo fim do golpe.

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